(Foto: reprodu\u00e7\u00e3o)<\/em><\/p>\n Jack Nu<\/strong><\/em><\/p>\n Falar sobre cultura can\u00e1bica \u00e9 falar sobre o qu\u00ea? Seria falar exaustivamente dos felizes avan\u00e7os da luta antiproibicionista, seja ela embasada em argumentos m\u00e9dico-cient\u00edficos, agro-urbanos, ou fitoter\u00e1pico-recreativos? N\u00e3o creio. Seria ent\u00e3o evocar cansativamente os \u00edndices para suscitar o fracasso da guerra \u00e0s drogas Nixoneana \u00e0 la Brasil e Cear\u00e1, e suas infind\u00e1veis e cotidianas mazelas? T\u00e3o pouco. O que diabo seria ent\u00e3o falar sobre cultura can\u00e1bica? N\u00e3o sei, mas vamos seguindo. S\u00f3 deixo claro que n\u00e3o quero aqui me estender, enfadonho.<\/p>\n N\u00e3o \u00e9 nossa pretens\u00e3o dichavar esse papo lentamente, removendo grilos e galhos alheios. Cada um sabe do seu cada qual. Onde o seu p\u00e9 aperta mais ou menos, e apert\u00e1-los assim: assuntos pr\u00f3-causa e assuntos contra a causa parecem redundantes demais, e chatos! N\u00e3o oportuniza ao leitor desligar-se do texto lido, e que ma\u00e7ante \u00e9 consumir texto que n\u00e3o permite uma viagem. Um do bom… um texto que permita essas idas e vindas sensoriais, condicionando nosso c\u00e9rebro a estar e sentir os outros mundos, e esfumar suas ideias aleat\u00f3rias em uma ordem individual, \u00edntima, cara a cada um, e a cara de cada um.<\/p>\n Do que fal\u00e1vamos? Pois \u00e9, a cultura, material ou imaterial, \u00e9 entendida aqui conceitualmente como qualquer coisa produzida pelo homem, moldada de diversas formas e por diversos fatores (tempo, local, clima, por ela mesma). Elas s\u00e3o muitas e diferentes entre si. Reduzimos, ou ampliamos ent\u00e3o, nossa observa\u00e7\u00e3o \u00e0 cultura do homem que se relaciona indireta ou diretamente com todas as plantas herb\u00e1ceas da fam\u00edlia cannabis<\/em> – a\u00ed temos um mundo de possibilidades. Mas n\u00e3o te preocupa caro leitor. Hei de ser breve. O diretor Irabussu Rocha, do Servi\u00e7o Nacional de Sa\u00fade, em 1959, afirmou que \u201cprender os traficantes \u00e9 mister ingente e de resultados prec\u00e1rios\u201d, visto que \u201ct\u00e3o extensa \u00e9 a rede e a trama dos maconheiros\u201d. 55 anos depois, essa rede se ampliou, assim como as pris\u00f5es dos \u201ctr\u00e1-tr\u00e1s\u201d. O que talvez o apocal\u00edptico Irabussu n\u00e3o pudesse prever era a virada de mesa nas quest\u00f5es da cannabis<\/em> em t\u00e3o pouco tempo, ora, afinal s\u00e3o \u2018apenas\u2019 sete ou oito d\u00e9cadas de proibi\u00e7\u00e3o frente a um uso humano que data do paleol\u00edtico.<\/p>\n Ent\u00e3o, a cultura que gostar\u00edamos de tratar aqui n\u00e3o \u00e9 a da proibi\u00e7\u00e3o, \u00e9 sim a do uso, e se preferir o atento leitor, do abuso, das propriedades som\u00e1ticas desse magn\u00edfico exemplo de domestica\u00e7\u00e3o bem-sucedida de uma esp\u00e9cie vegetal. O cultivo dessa planta vai a todas as partes do planeta.\u00a0 Do leito do rio S\u00e3o Francisco aos montes Urais, da selva colombiana \u00e0 pen\u00ednsula\u00a0de Iucat\u00e3, da \u00c1frica congolesa \u00e0 Polin\u00e9sia. Discutir, pois, a proibi\u00e7\u00e3o \u00e9 quase fechar os olhos ao trabalho da f\u00edsica, j\u00e1 que a natureza d\u00e1 seu jeito de legalizar. Mas n\u00f3s, os sapiens<\/em>, amantes da guerra, tivemos a aud\u00e1cia infeliz de declarar guerra a uma planta. Sendo assim, o tema perpassou o uso e infelizmente temos de recorrentemente estar falando da proibi\u00e7\u00e3o. Pois bem, j\u00e1 que \u00e9 inevit\u00e1vel ent\u00e3o, falemos do passado, que se estende ao hoje.<\/p>\n Em 11 de junho de 1931, a porta-voz da proibi\u00e7\u00e3o foi a not\u00edcia do jornal Folha da Noite<\/em>, da cidade de S\u00e3o Paulo. Naquela quinta-feira, o desinformado jornalista escreveu j\u00e1 no t\u00edtulo da chamada a s\u00edntese dos futuros recortes sobre maconha nos jornais brasileiros: A GUERRA AOS FUMADORES DE MACONHA. <\/em>Adiante,ele credita eternidade criacionista e hereditariedade darwinista ao uso de maconha pelos \u2018nordestinos\u2019, dizendo que: \u201cfoi sempre usada em alguns estados do Nordeste. Esse uso \u00e9 muito antigo, parecendo que foi herdado dos selv\u00edcolas, pelos primitivos colonizadores\u201d. <\/em>E ainda exalta, grosso modo, Marx: \u201cNa classe popular, os fumadores de maconha s\u00e3o numerosos\u201d.<\/em> Depois de tanta filosofia em t\u00e3o poucas linhas, s\u00f3 nos resta concluir, usando para tal o mesmo fat\u00eddico desfecho que o jornalista denunciou em suas palavras, dizendo ele do devir oficial, jur\u00eddico e p\u00fablico: \u201cAgora a pol\u00edcia est\u00e1 empenhada em uma s\u00e9ria campanha contra os fumadores de maconha\u201d. <\/em><\/p>\n Jack Nu\u00a0\u00e9 historiador e p\u00e9 sujo<\/em><\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" (Foto: reprodu\u00e7\u00e3o) Jack Nu Falar sobre cultura can\u00e1bica \u00e9 falar sobre o qu\u00ea? 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