(Foto-montagem: Kinzin, a partir de fotos de reprodu\u00e7\u00e3o da internet e de Domicio Pinheiro, do arquivo hist\u00f3rico do Jornal dos Sports)<\/em><\/p>\n

Kinzin<\/strong><\/em><\/p>\n

Indubitavelmente, o futebol \u00e9 algo bem maior do que pessoas correndo atr\u00e1s de uma bola durante 90 minutos. Para que este fato aconte\u00e7a \u00e9 preciso que se tenha um ambiente de jogo, prepara\u00e7\u00e3o, prele\u00e7\u00e3o de treinadores, diretoria que gere os clubes, torcida para empurrar os times em busca da vit\u00f3ria. Claro, esses fatores s\u00e3o important\u00edssimos, mas tamb\u00e9m n\u00e3o s\u00e3o condi\u00e7\u00f5es \u00fanicas, visto que j\u00e1 vimos situa\u00e7\u00f5es em que algum destes n\u00e3o aconteceu e nem por isso o jogo deixou de ocorrer. E, indo al\u00e9m disso, o esporte bret\u00e3o n\u00e3o \u00e9 apenas t\u00e1tica, t\u00e9cnica e for\u00e7a aplicadas a movimentos f\u00edsicos. Ele respira cultura, cidadania, pol\u00edtica e, por que n\u00e3o dizer, ele \u00e9 humano acima de tudo.<\/p>\n

Podemos observar que diversos tons de rela\u00e7\u00f5es sociais est\u00e3o presentes neste esporte como as configura\u00e7\u00f5es de poder, as disputas entre concorrentes que variam entre capacidade e sorte, os conflitos e rivalidades, as formas de burlar as regras do jogo (ou da vida), as contraven\u00e7\u00f5es. N\u00e3o \u00e0 toa muitos pesquisadores da antropologia do jogo, como Roger Caillois e Johan Huizinga falaram que, sim, o jogo \u00e9 sociedade. E, partindo desse pressuposto, sabendo que todo esporte \u00e9 um jogo, e que futebol \u00e9 um esporte, o futebol tamb\u00e9m \u00e9 social.<\/p>\n

E dentro desta vida em sociedade podemos observar diversas contradi\u00e7\u00f5es como desigualdades, falso moralismo, corrup\u00e7\u00f5es das mais variadas formas poss\u00edveis. E tamb\u00e9m \u00e9 vis\u00edvel que muitos n\u00e3o conseguem tolerar essas atitudes e rebelam-se contra o sistema vigente, tentando propor uma nova forma de organiza\u00e7\u00e3o. E da mesma maneira ocorre no social. H\u00e1 casos e mais casos de verdadeiros rebeldes dentro do esporte mais praticado no planeta.<\/p>\n

Seja jogadores que n\u00e3o aceitam mais ficar com dois meses de sal\u00e1rios atrasados e declaram greve, ou um jogador que n\u00e3o aceitou ficar cego e surdo frente a todas as viola\u00e7\u00f5es que ocorriam em seu pa\u00eds em \u00e9poca de ditadura, e at\u00e9 mesmo outro jogador que conseguiu fazer seu pa\u00eds dar uma tr\u00e9gua numa guerra civil local. E, claro, n\u00e3o podemos esquecer dos torcedores organizados, que na sua g\u00eanese nos anos 70 no Brasil, surgiam com o car\u00e1ter de oposi\u00e7\u00e3o e cobran\u00e7a frente \u00e0s diretorias dos seus clubes.<\/p>\n

A rebeldia \u00e9 essa insatisfa\u00e7\u00e3o com algum aspecto social, cultural, pol\u00edtico ou econ\u00f4mico e que \u00e9 percebida muitas vezes quando algo que est\u00e1 estabelecido \u00e9 contestado. O car\u00e1ter de contesta\u00e7\u00e3o ao status quo<\/em> anda quase de m\u00e3os dadas com essa rebeldia.<\/p>\n

\u00c9 pensando exatamente nisso, ou seja, nas pessoas que se insurgem dentro do contexto esportivo, que buscamos escrever estas e as linhas dos pr\u00f3ximos textos. \u00c9 com essa inten\u00e7\u00e3o que surge a s\u00e9rie \u201cFutebol e Rebeldia\u201d. Nos pr\u00f3ximos posts iremos abordar de forma mais aprofundada alguns pontos j\u00e1 citados anteriormente, tentando fazer um pequeno apanhado de alguns casos desse assunto dentro do meio futebol\u00edstico.<\/p>\n

Sabemos que \u00e9 um campo de pesquisa enorme e n\u00e3o temos a pretens\u00e3o de ser um estudo academicista sobre o tema, apenas estamos querendo mostrar para os leitores que o assunto \u00e9 talvez bem mais comum do que o que possa parecer, afinal, quem n\u00e3o lembra do S\u00f3crates e a Democracia Corintiana? Qual dos moradores de uma grande metr\u00f3pole brasileira nunca viu a sua cidade se colorir e seus torcedores rivais serem, ora mocinhos, ora vil\u00f5es, em dias de cl\u00e1ssicos pelo Brasil afora?<\/p>\n

* <\/em><\/strong>“Futebol e rebeldia<\/em>“\u00a0<\/em>\u00e9 uma s\u00e9rie de v\u00e1rias cr\u00f4nicas. Essa \u00e9 a primeira delas!<\/strong><\/p>\n

Refer\u00eancias:<\/strong>
\nCAILLOIS, Roger. Os jogos e os homens. Lisboa: Cotovia, 1990.
\nHUIZINGA, Johan. Homo ludens. 4. ed. S\u00e3o Paulo: Perspectiva, 1996.
\nOs rebeldes do futebol. Dire\u00e7\u00e3o de Gilles Perez. Fran\u00e7a: Arte France, 13 Productions, 2012. (92 min.), son., color. Legendado.<\/p>\n

Kinzin \u00e9 amante dos mais variados tipos de m\u00fasicas poss\u00edveis e das boleiragens cotidianas da vida, n\u00e3o necessariamente nessa ordem<\/em><\/strong><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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