Cordéis de luta



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(Foto: Modefica)

Natural de Juazeiro do Norte, na região do Cariri cearense, Jarid Arraes é mais uma nordestina que embarcou pra São Paulo em busca de novas experiências pessoais e profissionais. Contudo, sem perder de vista suas origens. Filha e neta de cordelistas, aprendeu com a mãe a ser feminista e, com o pai, a arte de escrever cordéis.

A caririense, com apenas 24 anos, já é autora de mais de trinta títulos em Literatura de Cordel, nos quais desafia a normatividade e luta em palavras contra o machismo, o racismo, a homofobia, a gordofobia e todas as formas de preconceito e intolerância. Também é jornalista e escreve coluna na Revista Fórum, a “Questão de Gênero“, onde fala sobre Direitos Humanos, feminismo, questões raciais, e diversidade sexual e de gênero.

A cordelista tem como maior influência nos cordéis seu pai, Hamurabi Batista, mas também ressalta a referência de Patativa do Assaré, mestre-mor dos cordelistas nordestinos. Seus cordéis tratam de temas do cotidiano, que envolvem quase sempre o combate aos preconceitos que atingem os direitos e a dignidade humana. “Tudo o que escrevo, escrevo porque tenho necessidade de externar para enfrentar as mais diversas formas de discriminação. Com os cordéis, sinto que tenho uma maior liberdade para expressar a indignação e a crítica de forma mais assertiva, porque o cordel te dá o recurso do humor, da ironia, do tom certeiro. Muitas vezes, escrevo um cordel quando estou indignada, quando o machismo, o racismo e outras formas de preconceito são praticados em casos que me geram revolta”, desabafa.

Fuçando seu blog de cordéis, podemos dar de cara com diversos títulos pra lá de sugestivos, como A Bailarina Gorda; A Menina Que Não Queria Ser Princesa; A Guerreira do Sertão; A Mulher Que Não Queria Casar; Photoshop é a Mulesta; Filha de Preta, Pretinha É; Não Me Chame de Mulata; Chica Gosta é de Mulher; Travesti Não é Bagunça; Lave Suas Cuecas e O Nordeste é a Periferia do Brasil. Alguns destes estão publicados gratuitamente na Revista Fórum (veja aqui).

Complementa a jornalista e escritora: “Já com o jornalismo, tenho a possibilidade de multiplicar o meu espaço e dar voz para outras pessoas, outras mulheres que têm conteúdos relevantes para compartilhar. Acredito que minha responsabilidade como jornalista é fazer do meu espaço o espaço de todas as outras mulheres, sobretudo as negras que ainda são tão preteridas, vítimas do machismo e do racismo de nossa sociedade”.

As Lendas de Dandara

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(Ilustrações: Aline Valek)

Inquieta como toda alma criadora, Jarid lançou esse ano seu primeiro livro de prosa, As Lendas de Dandara, que mistura ficção, história e um toque de fantasia, onde são narrados dez contos sobre a guerreira quilombola Dandara dos Palmares, companheira de Zumbi. Ilustrado por Aline Valek, o livro conta sobre a vida de Dandara desde o seu nascimento, explicando sua origem, suas conquistas e suas lutas.

Com muita aventura, suspense, acontecimentos sobrenaturais e até um pouco de romance, a autora conta de uma maneira mágica a forma como Dandara, desde sua infância, fez feitos dignos de uma lenda. Os contos são inspirados em fatos reais da história do Brasil e valorizam a cultura afrobrasileira e a memória de Dandara, tão frequentemente esquecida da historiografia oficial e cuja existência é cercada de controvérsias. Devido à escassez de dados oficiais a seu respeito, a autora sentiu a necessidade de criar narrativas que pudessem inspirar as leitoras e leitores e espalhar a imagem de uma guerreira negra forte, heroica e protagonista da própria história.

Embora seja voltado para o público adulto e adolescente, As Lendas de Dandara oferece um material inédito para os jovens e pode ser lido para crianças com a mediação de um adulto responsável, por tratar de temas de violência como o tráfico humano e a escravidão. O livro pode ser adquirido em formato físico e eletrônico, no site http://www.aslendasdedandara.com.br/

Cordéis:
www.jaridarraes.com/cordel

Alguns cordéis estão publicados gratuitamente na Fórum: http://www.revistaforum.com.br/questaodegenero/tag/cordel-feminista/


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