Amanheço no mar



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(Foto: Revista Berro)

João Ernesto

Por agora me vem a lembrança daquelas auroras frias
Por conta daqueles banhos de chuva na madrugada
Nossas roupas ainda molhadas permaneciam
Fazendo perder calor, não o calor dos amantes
Aqueles eram sempre aquecidos com o sol que era parido
Ali do horizonte.

Acordar de madrugada na estrada
A cabeça recostada da pessoa amada ainda dorme em seu colo
E como é bonito o rosto que adormece sereno.
Olhar as gotas de orvalho que passa depressa não engana
Entre a manhã e a madrugada hora exata e depurada
Pra um coração que ainda ama.

Entre os corpos e aquela escuridão que cessa
Existe um só corpo que se abraça
Pra não senti r frio, pra não perder o fio da meada

O som do mar que bate nas pedras ainda ameaça
E traz com ele aquelas lembranças de vidas passadas
De mouros que não sabiam que sentir aquilo era saudade
De moças que esperavam, Iracema e dona Marta
A hora ainda a ser depurada

Peneira de lembranças, como se entrasse no mar eu me despi
E corri
e pulei no mar sem nem me molhar
É como um banho na alma
Lembrar a vida sem peso
Sentir que ela vale o apreço de quem vai nadar contra a enxurrada

Quem ouve o som da água e sente as pancadas
Como aquele caranguejo eu me agarro as pedras
E por um momento o mar não me deságua
Faço o peso e o contrapeso pra me manter na estrada

A vida é como um rio? A vida é como água.
Que toma forma e se transforma na próxima parada.

A vida é como um cio? A vida é como mágoa.
Que chega sem aviso e vai embora pra outra morada.

A vida é o vazio? A vida pode ser o nada.
Depende de quem você espera no alvorecer da madrugada.

João Ernesto acredita que as reticências ainda querem dizer muita coisa…


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