Frieza



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“Me parece, não é o mundo que é tão ruim, mas o que estamos fazendo com ele. E tudo que estou dizendo é ver que mundo maravilhoso seria se apenas lhe déssemos uma chance. Ame, querida, ame. Esse é o segredo, sim. Se muito mais de nós amássemos uns aos outros nós resolveríamos muitos problemas. E então esse mundo seria ótimo”. (Louis Armstrong)                                                                                        

Faça zoada” (The Public, 2019)

Saí do banho e fui apanhar uma toalha estendida no varal e senti um sopro de vento, curto, mas o suficiente pra arrepiar meu corpo e degelar minha alma me fazendo resgatar minha formação humana-cristã.

Ora, uma suave brisa dessa no começo da noite na terra do sol foi capaz de me causar frio, imagine o frio de quem não tem onde morar e vive onde o inverno é deveras forte. Não teve como de imediato, por puro instinto e vergonha na cara, não reconhecer que em comparação a situação de muita gente “que mundo maravilhoso” é esse que constitui a minha vida, assim como não teve como não agradecer ao universo pela mãe e família que tenho, pois embora a gente sempre tenha sido muito humilde, bem distante do padrão de vida da classe média do país, nunca ninguém deixou faltar comida, rede e lençol quentes pra ninguém.

Hoje, mesmo com todo o aparato tecnológico, mesmo com tanta riqueza construída pelo trabalho, mesmo com tantas pesquisas científicas, definições conceituais, pagação diplomática e semântica normativa, mesmo com tantos avanços materiais e intelectuais nós enquanto sociedade permitimos que pessoas morram de fome e frio. Que fracasso.

Atrocidades movidas à preguiça e egoísmo não ocorrem apenas em países subdesenvolvidos mandados por coronéiszinhos como o Brasil, o índice de pessoas em situação de rua que lutam contra o inverno equipadas com cobertores e agasalhos rotos nos EUA, por exemplo, é monstruoso.

Honestamente não sei qual é a minha melhor virtude, revolta ou empatia, certo é que acolhido no que tenho, pouco para alguns, mas muito para muitos me sinto agradecido pela sorte e frustrado por concretamente não conseguir contribuir de alguma forma para amenizar a dor do outro e me movimentar contra essa lógica caótica que faz com que pessoas e animais – não é incomum pessoas em situação de rua adotarem animais como cachorros, que além de segurança propiciam companhia a quem todo dia é esquecido pela sociedade – morram de frio, inanição ou outros tipos de violência.

O nome disso é capitalismo e em vez da galera que não tem como acumular riqueza lutar contra ele, problematizando as relações permeadas por seus princípios, talvez, demonstra dificuldades até pra reconhecer o quanto esse sistema responsável pela inflação do calor humano, inimigo da vida, antagonista de um mundo que ele e outras ignorâncias impedem de ser maravilhoso.

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Augusto Azevedo é estudioso da fenomenologia referente ao que é conhecido vulgarmente como pobres de direita


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