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(Ilustração/pintura: Militão dos Santos)
João Ernesto
E todo sertanejo celebrando o deus do Fogo. Estrondos, cachorro correndo sem rumo, o rabo entre as pernas, ele corre às cegas. Menino brinca de trác na calçada, um passo na rua que a mãe chama já atenção: “já falei pra não ir pra rua, fique na calçada!”. O menino retorna desconfiado, mas na certeza que vai voltar pra soltar ao menos uma rasga-lata perto da boca do cano que escorre a água de casa. As bandeirinhas que custaram uns reais de todo morador que quis contribuir, mutirão pra enfeitar a rua para o deus do fogo.
O milho! Tradição do sertão é celebrar a colheita, a fartura… pamonha, canjica, pipoca, munguzá e tome milho! O deus do fogo tá contente com os fogos, com a chuvinha e o cheiro de pólvora que fica nas mãos, aos estalos noite adentro, é pro Deus do fogo. E São Pedro, deus da água, que tem a chave e que tem tanto significado nessa passagem: vamos ter fartura ou escassez? Depende da água.
Santo Antônio vem celebrar a fertilidade e as mulheres recorrem às simpatias para se sentirem mais férteis. Dessas adaptações católicas, ao culto à deusa da fertilidade, Juno, os rituais para espantar os demônios da má colheita. A celebração do dia 24 de junho, dia mais longo do ano, acreditar que o sol nos dará energia para afastar os maus fluidos.
Desde o século IV que nos vemos mais cristãos, mas sem nunca deixar de nos remeter aos povos mais antigos. Se a adaptação conta que a fogueira foi pra avisar Maria sobre o nascimento de João Batista, nós podemos readaptar e imaginar que nosso amor sempre há de renascer das cinzas. Incrustar em nossa memória a importância de celebrar o momento vivido, compartilhar, saudar e ressignificar nossa existência de forma coletiva. Das festas junônias às festas juninas… O fogo, a água, a fertilidade, o milho, o céu, a coletividade. Cenário certeiro, pipoca, munguzá e morteiro, saciar a fome e o desejo de vida longa à mãe terra.
João Ernesto ainda acredita que reticências querem dizer muita coisa…