Quarentena na periferia



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*Fotos de Patrick Stefanini

Vivemos a era da técnica: para tudo se encontra uma solução, bastando procurar, todos os problemas podem ser resolvidos. Pra mim, a técnica e a simulada sensação de controle é a grande mentira sob a qual vivemos os sonhos mais afetivos.

E eis que deparamos com o covid-19 que, aparentemente, é a pior doença que enfrentamos nos últimos anos. Eu disse aparentemente e dou ênfase na palavra porque as fotos de Patrick Stefanini nos reconectam com o real problema que vivemos, a saber, a dificuldade do homo sapiens pós-moderno em lidar com a solidão, esse fantasma que está conosco.

Patrick consegue captar o real só presente no devaneio. Do alto do sétimo andar, de dentro de sua cabeça inquieta, através da lente (existencial) da sua câmera e da janela de um apartamento na Cidade Tiradentes, o que Patrick olha e congela no tempo é precisamente esse momento que vivemos… cérebros viciados em rotina, dentro de corpos periféricos trancados em casa como que impedidos por ordem divina de cumprir sua função na terra: serem explorados pela vida do trabalho.

A solidão da quarentena (Fotos: Patrick Stefanini)

O que está presente nessa coleção de imagens desmistifica o que as utopias de ficção científica nos colocaram na cabeça quando se trata da extinção da humanidade (nem que nos esforcemos muito a alcançaremos). Não existe nenhum agente de extinção do homem mais forte do que ele mesmo em sua rotina.

Ao que parece, estamos loucos para voltar ao normal mesmo que isso signifique a nossa perpétua exploração. Dignidade ou morte… parece que essa conta não está fechando no Brasil.

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