Globo e Bolsonaro são irmãos gêmeos de um liberalismo à brasileira



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(Fotomontagem: Uli Batista)

“Seu advento foi por muito tempo impossibilitado pelas cláusulas de exclusão estabelecidas pela tradição liberal em detrimento dos povos coloniais e de origem colonial, das mulheres e dos não-proprietários. E estas cláusulas foram por muito tempo justificadas, assimilando os excluídos a ‘bestas de carga’, a ‘instrumentos de trabalho’, a ‘máquinas bípedes’ ou, na melhor das hipóteses, a ‘crianças’” (LOSURDO, Democracia ou bonapartismo: triunfo e decadência do sufrágio universal, p. 9).

No trecho acima, o filósofo italiano Domenico Losurdo fala sobre como o advento do direito ao voto foi prontamente negado à população no decorrer da história liberal. Assim como a abolição da escravidão, os direitos trabalhistas, além do que sobrou de conquistas sociais do início do século XXI, o Brasil continua alvo de desinformação que faz uma parcela da população acreditar que deve ser contra o próprio voto.  

Nunca de fato se combateu como deveria os grandes acumuladores de dinheiro no Brasil, verdadeiros responsáveis pelo aumento da miséria e pela perca dos direitos conquistados pela população. Uma maneira ignorante de pensar considera o presente em que vive um produto estabelecido como única verdade. Tudo pode ser destruído e construído sob o olhar imediatista de um ignorante e o acúmulo de dinheiro é o deus caduco dessas pessoas que criam as próprias cordas para sua forca.

As grandes fortunas são cínicas. A desfaçatez com que convence uma parte da população só é compatível com o nível de desinformação de seus adoradores. Somando-se com o alinhamento da mídia aos acumuladores de capital, temos aí uma parcela da população desconfiada das informações que nos chega. 

O jornal que espetaculariza a condução coercitiva de um ex-presidente é o mesmo a estabelecer limites ao caos social que ajudou a criar, colocando-se a favor de uma democracia de ocasião. As ranhuras voluntárias provocados pela Rede Globo é uma marca na testa de um canal que conspirou para gerar o ambiente político atual. Parte da população é produto exatamente do sensacionalista e histórico ódio à esquerda que faz parte da sua linha editorial.  

Não tivemos ainda um governo federal que de fato mediasse a bizarra concentração de concessões públicas nas mãos de políticos, famílias e do proselitismo religioso. Pensar comunicação não era pra se confundir com encher o bolso de dinheiro.  A informação devidamente checada, à serviço da pluralidade a qual o Brasil tem como principal característica, além de poder ser aliada da educação em um país marcado pela segregação estrutural, deveria ser argumentos basilares da comunicação em um país.

Um dos principais pontos que mede a eficácia da democracia de um país é justamente a concentração do monopólio da comunicação. Quanto menos concentração de concessões nas mãos de poucas famílias, maior e mais efetiva é a democracia nesse país. Projetos que visassem atenuar a concentração nos meios de comunicação foram historicamente colocados por tais canais como cerceadores de liberdade de expressão no Brasil, enquanto uma rede de produção de fakenews transformava as necessidades do povo em ódio ao comunismo, além de concentrar a produção de conteúdo nas mãos de pessoas pouco interessadas com a verdade.

Além dos grandes canais de televisão, falamos também de militares, posseiros de terras, uma grande ala evangélica jamais preocupadas com a checagem de conteúdo, profissionais em manipular opiniões pelo seu bel-prazer ideológico de acúmulo de capital. Uma aliança que brincou descaradamente com a verdade para eleger o atual presidente. A bravata de não corruptível, quando eleito, foi por terra antes mesmo do início do mandato, intensificando o fluxo de dinheiro público para os disseminadores de mais informação falsa

Segundo Guilherme Amado, do site Metropoles, no dia 14 de agosto o próprio presidente enviou mensagem de texto assinada por um grupo de Facebook chamado “Ativistas direitas volver” para grupos de Whatsapp convocando seus apoiadores a irem às ruas em um “contingente absurdamente gigante” no dia sete de setembro, incentivando-os a apoiarem um “bastante provável e um necessário contragolpe”. Mais uma vez considerando que o Brasil tem uma “constituição comunista”, a semente de um golpe em conluio com as forças armadas é proposto pelo próprio Bolsonaro

Na melhor das hipóteses, o problema do presidente está na infância. Os problemas de alcoolismo que o pai sofreu por ser impedido de exercer a função de dentista sem diplomação ou talvez a pobreza ressentida em tal época da vida tenha gerado sequelas profundas na personalidade frágil do atual presidente, fatores que jamais irão justificar a intenção de levar seus eleitores a revogar o direito à própria democracia. 

Bolsonaro trata o Brasil como uma nau cafona, que range caduca sobre um mar de desinformação. Sem lançar mão dos remos a serem manuseados por suas “máquinas bípedes”, quer carregar o futuro do país constantemente incendiado pelos ganhadores de dinheiro, os defensores do armamento, os sádicos, os grileiros, o bruto que esperneia antes da iminente derrota. Não podemos negar que a Globo hoje tenta averiguar os fatos e denunciar os desmandos do atual presidente, mas ele próprio aprendeu com a escola de interesses do canal a ser o que representa hoje para seus apoiadores.

À revista Babel, o poeta baiano Waly Salomão, no início dos anos 2000, falou que “a gente tem que ver a educação não como uma forma de confirmação só para pequenos objetivos, uma pequena carreira, para eu defender meu quintalzinho; deve ser uma ampliação, até uma força motora para diminuir uma das coisas que mais nos envergonha, a mim por exemplo, as desigualdades absurdas que o Brasil tem”. Podemos compreender esse pensamento como uma forma de pensar a comunicação e finalizo lembrando que nenhum cercadinho, ou quintalzinho, será mais importante que a soberania de um povo

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