Copa: beijinho no ombro para as mulheres



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Alice Xavier

A Copa do Mundo no Brasil está reproduzindo um espetáculo misógino, tão igual quanto o comportamento da sociedade atual, através da disseminação e fortalecimento da cultura do ódio e desprezo às mulheres.

No momento, não somos mais apenas rotuladas como inferior perante os homens: agora, a moda é competir umas com as outras. E isso ficou muito evidente durante a exibição de abertura de um megaevento internacional como a Copa, onde as duas mulheres escolhidas para representarem as nações participantes do torneio, ao invés de celebrarem a união entre os povos, estavam protagonizando uma disputa estúpida para ver quem era a “melhor”, por meio de uma apresentação desprovida de significados altruístas.

E para piorar ainda mais a situação, depois do show vi até enquetes de mídias jornalísticas questionando os seus leitores sobre qual das duas tinha se saído melhor, validando mais uma vez esse comportamento competitivo à grande massa.

Em tempos em que as músicas “Beijinho no Ombro”, da Valesca Popozuda, e “Show das Poderosas”, da Anitta, viram hinos, a cena descrita anteriormente torna-se um modelo de sucesso a ser alcançado pela maioria.

E a ironia de tudo isso? Todas essas cantoras são exatamente iguais: mulheres com o mesmo estilo de cabelo e roupa, com a mesma profissão, com o mesmo público, com a mesma proposta e com a mesma superficialidade. Ainda assim, consideradas celebridades por essa sociedade do espetáculo, que as alimenta, cada vez mais, com a essa falsa ideia de poder.

Outro exemplo desse tratamento pernicioso às mulheres em tempos de Copa é o aumento de casos de assédio sexual pelos estrangeiros às brasileiras e do número de estupros denunciadas por turistas femininas. Sem falar no próprio evento em si, onde os homens são os centros das atenções e as suas parceiras são tratadas, basicamente, como as “marias-chuteiras” e todo o restante das mulheres como as “aspirantes”.

Na verdade, posso confidenciar que não esperava nada mais além disso em relação a um evento que do começo ao fim age com uma postura antiética e que, mesmo assim, é tão reverenciado pela população.

Gente, isso é muito sério: no momento, existem meninas indianas sendo enforcadas em praça pública depois de sofrerem um brutal estupro coletivo, com o argumento de que elas provocaram isso, onde o próprio ministro do governo cita que “às vezes um estupro é certo”. Aqui, no Brasil, somos diariamente desrespeitadas por meio de piadas e até por agressões físicas.

O meu consolo é que há o poder de transformação da internet e de suas redes sociais que, nos dias de hoje, foge do domínio dos grandes meios de comunicação manipuladores por meio de sua liberdade de expressão. Salve Snowden!

Acredito que estamos num processo de evolução e que cada vez mais as pessoas estarão atentas a essa questão feminina. Mas para que essa isonomia se inicie, é preciso despertar, primeiro, a consciência das próprias mulheres.

Alice Xavier é autora do Blog da PX


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