A cultura do estupro



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Nas últimas semanas, várias manifestações contra a cultura do estupro circularam pelas redes sociais. O caso da jovem de 16 anos que foi estuprada por 33 homens, no Rio de Janeiro, chocou o país. Foram dias de reflexão, de muita revolta e, principalmente, de educação. As feministas e os movimentos feministas aproveitaram o acontecimento para trazer um pouco mais de informação sobre o tema, as reações demonstram que a sociedade ainda não compreende o que é a cultura do estupro e como ela é reproduzida diariamente, gerando a falsa ideia de que certa vulnerabilidade cria uma classe de mulheres estupráveis.

No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada e apenas 35% dos casos são denunciados. Além da falta de estrutura para o acolhimento das mulheres vítimas de violência, já que em muitos casos as delegacias não estão preparadas para o atendimento, muitas agressões não são denunciadas porque a vítima sente vergonha de dizer que sofreu um estupro. Não são poucos os relatos de mulheres que chegaram à delegacia e foram indagadas sobre sua vestimenta, como se o ato de estuprar fosse, na verdade, uma resposta a uma provocação emitida pela vítima.

As mulheres são atravessadas por uma violência simbólica que é reproduzida na sociedade de diversas formas, compreende um conjunto de padrões sociais passados através de canais de comunicação dominantes e de massas, que validam e legitimam estes padrões. As mulheres usadas como propaganda de marcas, que supostamente seriam de consumo masculino, transformam-se, no imaginário dos homens, no próprio produto, no objeto de prazer. As propagandas que disseminam a ideia da violência contra a mulher como sendo um ato de empoderamento masculino, de demonstração de superioridade, reforçam a narrativa de que toda mulher precisa de um homem forte, um macho. E não são poucas as pessoas que acreditam que o sonho de toda mulher é ser forçada a praticar relações sexuais não consentidas – ou seja, de sofrerem estupro.

Essa mulher, que passa a ser corpo desprovido de alma, é vista como instrumento de satisfação masculina. Os homens acreditam que as mulheres escolhem roupas, maquiagens, lugares e têm certos comportamentos com um único objetivo: provocá-los. Por isso, também acreditam que podem violar este corpo que pede para ser usado. É neste momento em que a violência simbólica se concretiza em violência física e, muitas vezes, faz com que a própria vítima acredite que teve culpa por ser estuprada.

No caso das mulheres negras, a objetificação é ainda maior. Não somente por uma questão de classe – já que a maior parcela da população negra brasileira é empobrecida, marginalizada e a que sofre mais violência -, mas também pelo seu lugar ocupado por vários anos na história: a de escrava sexual.

A cultura do estupro precisa ser combatida. O feminismo deve ser apoiado por todas as pessoas que desejam viver em um mundo com menos violência. O primeiro passo é entender como os padrões machistas e patriarcais são inseridos na sociedade e, sobretudo, não reproduzi-los.

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Artigo publicado na Revista Berro – Ano 02 – Edição 05 – Julho/Agosto 2016 ( pg. 30) (aqui, versão PDF).


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