Bruta flor



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Tornar-se mulher nunca foi um mar de rosas. Fomos e somos bruxas. Queimadas na Inquisição, subjugadas e subestimadas durante todo o processo de construção familiar, desrespeitadas em todos os sentidos. Desde sempre e até hoje.

Durante um bom tempo não fomos donas de nós mesmas; de nossos desejos; de nosso sexo; de nosso corpo; de nossas profissões, de nossas artes. Nem do nosso tempo, nem do nosso ócio. Mas, não seria esta uma reflexão que muito bem cabe em nossa realidade atual? A luta continua.

Anais Nin, Simone de Beauvoir, Virgínia Woolf e tantas outras nos abriram caminhos de possibilidades de ser e estar no mundo. Caminhos estes que, em pleno século XXI, em nossa sociedade brasileira, estão cada vez mais tortuosos no sentido de incompreensão e de promoção de pensamentos equivocados a respeito da figura mulher.

Mulher sair à rua sozinha, vestida do jeito que bem entender é sinônimo de assédio sexual. Mulher ir a um bar sozinha, beber ou fazer qualquer outra coisa, significa dizer que ela, obrigatoriamente, está interessada nos homens que lá se encontram. Mulher que transa no primeiro encontro não merece respeito. Mulher que é autêntica, que grita, que fala palavrão não é mulher. Mulher que tem formação superior, carreira de prestígio, experiência de trabalho, ganha menos do que homens que se encontram na mesma posição que ela. Mulher é má. Homem é bom ou, “é homem, né?!”.

Vivemos sob uma realidade completamente machista. Tão machista, que nos ataca, nos constitui e nos transforma em mulheres machistas. Então, não é somente difícil se tornar mulher, mas também, e principalmente, se tornar mulher que tenha consciência de si e do outro enquanto outro (seja este homem ou mulher), deixando de lado a ideia de coisificação do sujeito.

Chegou a hora em que precisamos transformar ou até mesmo transcender a ideia que temos de nós mesmas e da nossa condição no mundo para que o nosso pensamento e prática atinja uma maturidade que modifique de fato o mundo. Lutar por condições de igualdade de direitos é uma prática que deve ser realizada por todos. Não basta que o homem diga que não é machista porque ama as mulheres. Amar no discurso é poesia. Amar na prática é respeito.

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Nagle Melo é psicóloga, amante do ócio e escreve o que seu coração grita


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