Cartas à Vida: Casa



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Frida Popp

Vida,

Têm dias em que a única vontade que eu tenho é sair daqui.

Embarcar no primeiro avião, num ônibus qualquer. Num navio, quem sabe. Só com a roupa do corpo e a poesia embaixo do braço, no meu pequeno caderno verde de palavras mundanas.

Largar tudo. Todas as responsabilidades e quadradinhos que são construídos pra tentar nos classificar. Deixar pra trás os planos e as expectativas. Por que eu preciso seguir o que os outros esperam de mim? Me formar, ter um trabalho comum, casar, ser mãe, construir uma família… CHEGA! Chega desses conceitos que me emolduram, de ideias que me oprimem e tiram de mim o que eu tenho de mais precioso: minhas asas.

Por que diabos me fizestes assim? Das mudanças? Das inconstâncias? Do coração alado?

Hoje, com o peito aflito e vontade de, como diz Fernanda Meireles que tantas vezes fala por mim, colocar o pé na rua e o dedo no botão do destino, me deparei com um questionamento simples e complexo na mesma medida.

No meio do caminho topei com um “mas e tua casa, Frida? Tu vai largar tudo?”.

Enquanto matutava sobre isso, a lua surgiu dourada no céu e desanuviou tudo.

Eu vou, Vida.

Porque, enquanto eu olhava a lua, me dei conta de que minha casa é meu corpo. Minha casa é ter em mim, escondidinho cada qual no seu canto, os olhos azuis da mãe, as histórias do pai, os vestidos coloridos e olhares sinceros da morena, o sorriso do moço, o aconchego dos abraços de gente que se ama.

Minha casa são minhas lembranças.

Minha casa é onde vão meus pés.

Frida Popp não gosta (e não sabe) de definições


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