A decomposição criadora do jardim



0 Comentários



Ana Bento   

Sexta-feira à noite:

“Mama África, a minha mãe é mãe solteira…” – o telefone dela toca.

– E aí? – atende ela.
– E aí? Tá por onde? – pergunta ele.
– Tô aqui na PI. Tá em casa? Vou passar aí! – diz ela, perguntando, mas determinando a resposta. – Chego em 15 minutos.

Ela vai e eles transam meia hora de amor.

Ela volta para a praia. Ela, sua mochila e o cheiro do sexo dele. Em seu tênis cor da terra, com os cadarços desatados, ela dá seus passos pelo calçadão, acompanhada agora de lágrimas, lágrimas que escorrem ao vento.

Segue. Vê um ônibus que não sabe para onde vai. Dá sinal, o ônibus pára e ela sobe. Atravessa a roleta e senta perto do motorista.

– Boa noite, motorista! Para onde vai esse ônibus?
– Para o terminal, minha filha. Ainda bem que você pegou. Esse é o último. Depois, só corujão.
– Pode crer!

No terminal, ela quer ficar, mas precisa ir.

Gosta do terminal. Lá, vê a vida que ninguém vê. Se encontra na comida velha do terminal, nos bancos sujos já usados por tanta gente, nos mototaxistas cansados que ficam ali perto, naquele entra e sai de ônibus e de gente, na cor predominantemente cinza daquele lugar.

Porém, ela se encontra mesmo nos vários lugares aos quais pode ir, nos inúmeros caminhos que pode seguir saindo do terminal. Mas fica ali, sentada. Àquela hora, só corujão.

Tic- tac.

Levanta-se e vai até a saída.

– Ei, moço, quanto é que tu faz uma corrida de mototáxi para…

Ana Bento  é bicho,gente e semente


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *