Umbodemah (5ª edição)



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(Desêin: Ramon Sales)

Por Bode Berro

bodeberro@revistaberro.com

E aí negada, tudo bem? Ó, nessa edição a gente vai estrear essa seção aqui. Nesses jornalões que têm por aí, existe uma figura chamada “ombudsman”. Não me perguntem de onde veio esse nome que eu num sei não. Pensava no começo que era até xingamento. Então, essa figura de nome esquisito existe pra meter a bronca na negada, dizer onde o jornal ou a revista erraram, o que poderiam ter feito melhor… na verdade, verdade mesmo, existe pra criticar a negada, e até xingar, no nosso caso, quando for preciso. Pois bem, o pessoal aqui da Berro também tá precisando de uns puxões de orelha e de umas cutucadas. Tamo chegando na 5ª edição, mas nas quatro anteriores teve uma ruma de vacilo que eu, Bode Berro, num podia deixar passar batido. Como esse nome ombudsman é muito complicado de dizer e de escrever, aqui vai ser diferente: eu não sou ombudsman coisa nenhuma, eu sou um bode, mah. Ora mais! É isso mesmo: Umbodemah!

Mas bora começar nosso trabalho, que tem muita coisa pela frente. Óia, na 1ª edição, a gente cometeu umas besteiras grandes viu! Pra começar o besteirol, logo na capa me colocaram como “porteiro” e que eu tinha aceitado trabalhar aqui “por abrigo, comida e auxílio-merenda”. E na seção Berro HQ (pág.16), inventaram de me desenhar numa tal “entrevista de emprego”. Eu me recuso a fazer parte duma historinha daquelas. Olhe, minha gente, num podiam ter feito baboseira maior. Primeiro, porque aqui na Berro num existe essa divisão formal e quadradona de trabalho. Nunca teve uma entrevista de emprego pra eu entrar aqui. Isso é coisa de revista séria, não duma revista sem vergonha como a nossa. Se a gente num tem nem um cantim rochêda, comé que esse diacho de revista vai ter porteiro? Se essa revista, que é de graça, num dá renda nem pra comprar um pastel de vento com caldo de cana lá no Centro, comé que eu vou receber auxílio-merenda? Pra acabar logo com essa reclamação e partir pro próximo ponto, e sem querer me amostrar (mas já me amostrando!), aqui nessa revistinha fuleragem minha função é de mentor intelectual e guru espiritual. E já me dá um trabalho danado, ora marminina e marminino!

Não satisfeitos, na mesma capa da 1ª edição, mais uma baboseira, tão abestalhada quanto a primeira. Vieram dizer que eu era “sex-symbol”. Leram bem? Sex-symbol! Óia, meu povo, diante disso, me desculpem o palavrório, mas eu só tenho uma coisa a dizer: SEX-SYMBOL É MEU ZÓ-VO! Negoço de sex-symbol. Eu sou só um bode mah! Deixa esse negoço de sex-symbol prêsse povo que acha que o corpo é mais importante que as ideias e os valores. Isso de sex-symbol num é coisa pra nós não!

Na 2ª edição, logo na capa, teve outro vacilo que pode parecer pequeno, mas que não é. Diz muito do machismo que tem na sociedade. A gente anuncia: “Bode Berro conversa com nossos leitores”. Ôxe, e por acaso eu só conversei com macho? Não, ora mais! Conversei também com leitoras, ôxe! Essa coisa de usar só as palavras que se referem aos machos quando querem falar dos machos e das fêmeas num tá certo não. E isso já aconteceu outras vezes na revista. E tomara que não se repita. Sempre esse machismo disfarçado na língua que nós escreve. No caprinês, a língua das cabras e dos bodes, num existe isso não. Quando a gente vai falar na mesma frase de uma cabra e de um bode, existe uma palavra que significa pros dois. Querem saber qual é? É essa aqui ó: Bééé-béé! Pegaram aí? Pois é, o caprinês num é tão fácil assim de aprender. Mas ó, sempre que nós for escrever essas coisas, tem que ficar muito atento que no mundo tem outros gêneros, e não só os hômi. A partir dessa edição a gente já tomou muuuito cuidado em relação a isso.

Na 3ª edição, eu vou falar a verdade pra vocês: comi tanta da erva que num consigo ter uma opinião negativa sobre aquela revista. Acho ela ótima, foi tãããoooo legal…. hahahahahaha!!! Mas na 4ª edição, aí tem uma mancada fenomenal que eu não posso deixar passar de jeito nenhum. Os caras vão fazer uma entrevista com a Laerte, grande cartunista transgênera… Até aí, massa, mas onde diabos eles acham que o “travestismo” é uma “escolha”? Primeiro, a palavra “travestismo” num é legal, o melhor termo era “transgeneridade”, e isso num é uma escolha, é um jeito livre de ser. Bem que mereceram a resposta da entrevistada: “Já dei centenas de entrevistas mas ainda tenho que ouvir ‘escolha pelo travestismo’. Que cansaço”. Tôôooomaaa!!! Vai comendo, mininão! Mereceram! A transgeneridade é um negoço complexo, e que nunca vai ser só uma “escolha”. Pra entender ela é mais difícil do que andar de bicicleta no trânsito de Fortaleza. Aprendam, berradores!

Negada, por enquanto é isso! Sempre que espiarem alguma merda sendo publicada por essa revistinha sem vergonha, mandem mensagens pelas redes sociais ou pelo saite, mas principalmente mandem i-mêius aqui pra mim que eu vou ler com muita atenção. Agora, um tchau-tchau em caprinês: Bé-bé!

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Publicado na Revista Berro – Ano 02 – Edição 05 – Julho/Agosto 2016 ( pg. 3) (aqui, versão PDF).

 


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